Mapeamento LIC-RS (2022-2023)

Música e Políticas Culturais: O Que Revela a Pesquisa sobre a LIC no Conselho Estadual de Cultura

A presença da música nas políticas culturais do Rio Grande do Sul sempre foi marcante, mas nem sempre compreendida em sua totalidade. Pensando nisso, o pesquisador e doutorando em Etnomusicologia Bruno Rosa Nascimento (PPGMUS/UFRGS) desenvolveu um estudo aprofundado para investigar qual é, de fato, o espaço ocupado pela música dentro dos projetos aprovados pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC-RS).

A pesquisa, parte de sua tese de doutorado, surgiu de uma inquietação: como a música se insere nas decisões e nas prioridades do Conselho Estadual de Cultura? Quais são as disputas, convergências e invisibilidades quando comparamos esse segmento com áreas como dança, teatro, circo, artes visuais, literatura, audiovisual, tradição e folclore, artesanato, entre outras?

Objetivo do estudo

O principal objetivo foi mapear e compreender onde a música está presente nos projetos aprovados pela LIC-RS entre 2022 e 2023, analisando dados orçamentários e classificações segmentares fornecidas pela própria Secretaria de Estado da Cultura. Além disso, buscou-se avaliar a forma como a música dialoga com outros segmentos e identificar eventuais distorções ou lacunas nos critérios de classificação.

Metodologia

O trabalho foi desenvolvido a partir das tabelas e planilhas orçamentárias disponibilizadas aos conselheiros do Conselho Estadual de Cultura.
O pesquisador realizou a planilhagem de todos os projetos aprovados em um período de um ano, registrando:

  • Segmento principal atribuído (música, dança, teatro, artes visuais, etc.);

  • Tipos de fazer cultural presentes em cada projeto (criação artística, apresentações, circulação, formação, estrutura administrativa, divulgação, entre outros);

  • Convergências entre música e outros segmentos;

  • Casos de classificação que poderiam ser revistos.

Essa sistematização permitiu catalogar e interpretar não apenas os números, mas também o papel da música na construção das políticas culturais do estado.

Resultados e percepções

O levantamento revelou a forte transversalidade da música — presente em múltiplos tipos de projetos, mesmo quando não classificada como segmento principal — e a limitação dos rótulos atuais para representar a complexidade das práticas culturais. Também evidenciou a necessidade de melhorar os sistemas de classificação e coleta de dados para apoiar decisões mais precisas no Conselho.

Essa pesquisa é um passo importante para compreender não apenas a dimensão da música nas políticas culturais gaúchas, mas também para abrir um debate sobre critérios, representatividade e metodologias de registro. O estudo reforça a importância de olhar para além das categorias fixas e considerar a realidade híbrida e transversal das práticas artísticas.

Sobre o Pesquisador:

Bruno Rosa do Nascimento é etnomusicólogo com mais de 10 anos de atuação na música. Com bacharelado (2013-2016), licenciatura (2020-2022), mestrado (2018-2020) e doutorado em andamento (2022-2026) em Música +pela UFRGS, iniciou sua carreira em 2009 como trompetista na Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo e na Banda Marcial São Marcos (1999-2010). Desde então, participou de bandas como Poa Jazz Band (2018, 2019 – Atual), Luciano Leães & Big Chiefs (2015 – Atual) e Blues da Casa Torta (2017). Ministrou disciplinas de Análise Musical (2020), História da Música Brasileira (2021) e Percepção Musical na UFRGS, além de criar oficinas de metais e improvisação (2016-2018). Desenvolveu projetos como “Cultura Online!” (2020) e “Musicando Trajetórias” (2020, 2021), e mantém o canal educacional Classe Musical no YouTube (2017 – Atual). Suas publicações e pesquisas focam na música popular e na etnografia do jazz em Porto Alegre. Foi Conselheiro de Cultura no Rio Grande do Sul entre 2022 e 2024 e sua versa sobre música, democracia e política cultural.

Possui vasta experiência em bancas de avaliação cultural, com mais de 100 participações pelo LIC-RS Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul (até 2024). Atuou como parecerista para a Secretaria de Cultura de Pelotas (SECULT) em 2023, bem como para as Secretarias de Cultura e Turismo de Jaguarão e Gravataí no mesmo ano. Em Bagé, participou da avaliação de projetos pela Lei Paulo Gustavo em 2023. No âmbito nacional, Bruno atua na SEFIC do Ministério da Cultura em 2024-2025. Ele também contribuiu para a Política Estadual de Cultura Viva RS em Porto Alegre em 2023. Com uma pós-graduação em Gestão Cultural pelo SENAC-SP (2017-2019), Bruno alia sua formação acadêmica à prática na gestão e avaliação de projetos culturais, evidenciando seu comprometimento com a promoção e desenvolvimento da cultura no Brasil.

Direitos reservados Classe Musical: Formação, Produção e Pesquisa.