A tonalidade de uma determinada música está ligada ao conjunto de notas que será utilizado em uma determinada peça; ela impacta tanto as notas da melodia, quanto os acordes. É como se fosse a paleta de cores que um pintor escolhe para criar a sua obra, combinando na tela diferentes tons que se relacionam entre si.
Saber a tonalidade de uma música é muito útil! Os sustenidos e bemóis passam a não serem mais surpresas pelo caminho, pois conhecendo a tonalidade, já podemos imaginar onde estas alterações devem (ou não) estar representados. A leitura se torna mais fluente, e os caminhos para a improvisação e criação musical são abertos, já que um dos pontos para improvisar com liberdade é justamente ter o domínio/conhecimento nas doze tonalidades disponíveis. Boa parte da nossa música é feita dentro do que chamamos de sistema tonal (sistema que é utilizado em grande escala em todo o mundo desde o séc. XVI); a base para esse sistema é termos um centro de atração, um tom para onde todos os demais convergem. Esse centro é chamado de tônica, a qual designa qual é a tonalidade da música.
Por exemplo: se a nossa música está em dó maior, esse será o centro de atração. É a nossa tonalidade, e os acordes que aparecerem na música (com diferentes funções, como movimento e tensão) irão convergir, quase sempre, de novo para dó maior. Mas como saber em que tom uma música está? Como saber que acorde é a tônica?
1. Observe a armadura de clave
A armadura de clave é uma das chaves para sabermos a tonalidade de determinada peça. Se você tem a partitura da música, olhe sempre para o seu início, ao lado da clave. Veja se tem bemóis, sustenidos e quantos são; a partir disso, poderemos dizer qual é o tom da música. Por exemplo, se na armadura tivermos apenas um sustenido, sabemos que a música está em sol maior ou mi menor. Isso tem total relação com as escalas! Dica: olhe para a última nota da música. Se for um mi, no caso apresentado, possivelmente a música estará em mi menor. Se for um sol, possivelmente está em sol maior. Observe também os outros acordes que fazem parte.
2. Identifique os acordes
Se a sua música já está cifrada, ótimo! Caso não esteja, cifre ela primeiro, e depois analise quais são os acordes que aparecem. Quais aparecem mais? Quais acordes estão nos finais das frases? Quais acordes soam como resolução, como um ponto final na música, e quais parecem deixar a música no ar? Em que pontos parece que a música repousa – e quais acordes aparecem nesses pontos? Se você sabe montar campo harmônico, monte aquele do tom que você suspeita que é o tom da música e veja se os acordes do campo conferem com os acordes da música (observação: os acordes não precisam se restringir ao campo harmônico daquele tom em questão, mas na maioria das vezes, eles predominam na música).
3. Modo maior ou modo menor?
Uma mesma armadura pode remeter tanto a um tom maior, quanto ao seu relativo menor (a escala maior de sol tem exatamente as mesmas notas da escala de mi menor natural, por exemplo). Nesse caso, duas estratégias são ótimas: volte para o passo 2 e veja quais são os acordes que aparecem. Eles são do campo harmônico maior ou menor? Bom, às vezes esse passo não é suficiente, porque o campo harmônico da escala menor natural vai resultar nos mesmos acordes do campo harmônico maior. Nesse caso, analise o último acorde da música e a última nota da melodia. Na maioria das situações, a música termina no tom que é o tom da música (como descrito no ponto 1).
4. Confie no seu ouvido
Quase tudo o que você já ouviu, em termos de música, foi construído no sistema tonal. Ainda antes de nascer, você já ouvia esses sons; por isso, use seu ouvido e sua percepção musical ao seu favor! Ele é um excelente aliado para identificar qual é a tonalidade da música que você está tocando. E nesse sentido, exercícios que estimulem sua percepção musical são muito bem-vindos!
Letícia Arnold
Educadora Musical